quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Taypikala: onde estará Eva Maria?

Blog de Viagem - Jornadas Mágicas
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Diário de bordo: Hotel do Titicaca


A manhã chegou. O hotel deve despertar a turma toda por volta das oito horas, mas já estou desperto as 06h00.




O Hotel Taypikala é lindo e muito confortável. Além disso, estamos há poucas centenas de metros do lago Titicaca. Raquel deve acordar por volta das 7 horas, mas também precisará ensaiar (uma surpresa que teremos hoje, no lago, é uma apresentação de violino, com ela).

Alcione está no hotel ao lado, que pertence ao mesmo grupo, já que este hotel, apesar de ótimo, não tem quartos para todo o nosso grupo. Fechamos todo o hotel para nós, além de vários quartos do hotel ao lado.

Aproveito estes momentos de silêncio e calma para escutar os patos selvagens que passam por sobre o lago e assistir as imagens mentais que vão me preparar para uma apresentação que teremos no final do dia, no sítio de Silustani.

Penso também em Eva Maria.

Vou reencontrá-la hoje e, para que você não fique perdido, explico abaixo o que aconteceu ano passado, e você conhecerá essa indiazinha, de dois anos, que deu um susto em nosso grupo.

O que aconteceu ano passado


Normalmente, mantenho parte dos bastidores das viagens fora do blog. Mas, abrirei uma exceção hoje.





A menina acima é Eva Maria. Conheci Eva quando tinha pouco mais de 1 ano, em Los Uros, em 2006. Sua mãe, ao lado dela na foto, também chama-se Eva.

A maior parte dos viajantes de 2007 conheceu as duas, na ilha.

A esta altura, a maioria de vocês já sabe que eu não tenho uma agência de viagens. Na verdade, sou apenas parceiro da Terra Inca, agência de meu amigo Alcione Luiz Giacomitti, que promove viagens ao Peru e Bolívia há mais de oito anos.

Aqui, na Academia Novak, nós temos uma divisão especial, chamada Jornadas Mágicas, que envolve viagens, palestras e - algumas vezes, travel coaching.

Talvez, por isso nossas viagens sejam diferentes. Não temos interesse, na Academia Novak, em fazer 200 mil viagens para lugar nenhum. Nem a Terra Inca. Preferimos fazer poucas viagens, nas quais nós também embarcamos, e criamos roteiros cujo conteúdo seja diferente do restante. Alcione sempre organizou viagens desenhadas sob encomenda. Eu, como coach, apenas trabalho em viagens buscando metáforas naturais para meu trabalho.

Com isso, naturalmente, ganhamos menos. Mas, nos divertimos muito mais.

De qualquer modo, existem coisas que acontecem nas viagens que nos ensinam muito.

Ano passado, por exemplo, ao voltar a Los Uros, perguntei para Eva sobre sua filha, Eva Maria. Ela ficou contente por eu ter lembrado, mas disse que ela estava com um probleminha na mão. E pareceu triste.

Probleminha? Que probleminha?, perguntei.

Ela me olhou meio sem jeito, e disse que a filha tinha queimado a mão direita enquanto ela fazia uma sopa. Dois dias antes.

Os índios de Los Uros estão em uma encruzilhada cultural, ainda. Eles são índios, mas estão vivendo no século 21. Assim, têm comportamentos singelos, mas que podem ser mortais.

A nossa civilização pode aprender muito com eles, mas também podemos ensinar.

Ela perguntou se eu queria ver a menina. Eu disse que sim. E ela veio alegre. Olhei e vi uma mudança bem grande. Em apenas um ano, sua pele já estava queimada de sol. Note que ela não está bronzeada, mas queimada mesmo. Pude ver os anos de vida dela escorrendo pela exposição aos raios mortais do sol. Ano passado sua pele estava completamente diferente.

Ninguém ensina os índios que o sol pode encurtar suas vidas.

Mas isso é algo que a gente se acostuma a ver na Bolívia e no Peru. Bloqueadores solares ainda são ficção, para eles (são ficção para nós, em muitos pontos do Brasil!)

Mas o que me chocou (e que você NÃO verá, nas fotos) foi a tal queimadura de sopa. Quando a mãe levantou a blusinha da Eva Maria, eu nem sabia o que dizer. Raquel, que estava próxima de mim, perdeu a voz. A queimadura era grave. Muito grave.







Eva Maria tinha colocado a mão dentro de uma panela de sopa fervente. Não preciso dizer o que isso fez com a mão direita e o braço dela. Só de pensar nisso, já fico mais neurótico com crianças perto do fogão.

Chamei Alcione na hora. Ele viu e não acreditou. Ele perguntou quem estava cuidando dela, se havia algum médico, etc. Mas eles não tinham dinheiro para levar a pequena Eva Maria para um médico particular, em Puno, e um médico do governo... bem, se no Brasil isso é um problema, imagine em uma tribo peruana...

Então, Alcione e eu concordamos em mudar o roteiro da tarde. Eu tinha um trabalho para executar com os viajantes, em Silustani, e ele (originalmente) iria também. Mas decidimos que eu iria sozinho, com Raquel, para que ele pudesse levar Eva Maria para a cidade. E foi o que ele fez. Colocamos Eva Maria e a mãe no barco e levamos junto com a gente, para o ancoradouro. De lá, um taxi levou eles para Puno.

Alcione levou Eva Maria, com a mãe, até um consultório particular em Puno, pagou a consulta (e deixou paga duas outras), comprou os remédios, levou eles para comer e, por fim, devolveu as duas para a ilha.

Fez o que elas deveriam ter feito dois dias antes, mas por falta completa de um simples assistente social, nas ilhas, a menina poderia ter perdido os movimentos da mão. Não sei a aparência que terá sua mãozinha mas, como ela é muito jovem, pode ser que fique bem, quando crescer.

Este ano sei que as coisas estarão mudadas. As ilhas de Los Uros têm uma assistente social, agora, e até uma das ilhas têm um pequeno posto de enfermaria, montado por uma igreja. Mas, ano passado, eles não tinham como fazer nada, exceto ir para Puno, como fizemos.

Alcione aproveitou para fazer outra coisa: comprar o material escolar para todas as crianças da ilha, para todo o ano. Ele não deu dinheiro, porque isso pode ser complicado e arriscado, em qualquer lugar do mundo. Na verdade, ele foi até a cidade e comprou tudo, dos livros, cadernos e lápis até as mochilas. E entregou tudo para os moradores da ilha, antes de voltar a se reunir conosco.

Fico aqui imaginando se as tais agências de turismo que levam milhares de brasileiros ao Peru se preocupam com essas coisas. O que vejo é muito diferente. Vejo agências caça-níqueis que jogam os brasileiros lá como formigas em uma plantação. Poucas se preocupam em alguma responsabilidade social, pelo caminho. Só brigam pelo preço mais baixo, para socar mais e mais brasileiros lá. E salve-se quem puder.

Por isso trabalho com a Terra Inca.


ALGUMAS SEMANAS DEPOIS


Depois que o texto acima havia sido publicado ano passado, aqui no blog da viagem, recebi muitos e-mails com comentários sobre a pequena Eva Maria. A maioria, perguntando como ela estaria.

Felizmente, depois do atendimento médico ela está passando bem. Abaixo, mais uma foto, com Alcione, Eva Maria e sua mãe, Eva.

Foi tirada logo depois dela ter sido atendida em Puno. A mãozinha já estava tratada. Ela ainda estava chorando, porque ficou assustada, mas já tinha recebido, finalmente, os cuidados médicos!




Agora, voltando aqui para o dia de hoje, me pergunto como ela estará. Dentro de três horas, estaremos saindo para visitar a Ilha de Los Uros novamente e espero que ela esteja bem.

Logo sabermos, eu e você.

Enquanto isso, continuo a escrever e escutar os patos selvagens, que cortam o lago. É hora de fazer meus exercícios matinais. Com a trilha sonora maravilhosa deste lugar.

Hiran, nosso superfotógrafo, me passou esta foto, que tirou do lago.



É assim que começo o dia, aqui no Peru. E desejo um ótimo dia, para você, que está no Brasil ou em outros pontos do mundo, lendo este blog.



Aldo Novak
Coach, conferencista e viajante ocasional

Jornada Sagrada Inca & Nazca Misteriosa

blog oficial http://JornadasMagicas.Blogspot.com

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Mistérios de Nazca
Novembro de 2008
(http://www.NazcaMisteriosa.com.br)

Conheça o Peru misterioso, romântico e cheio de aventuras. Venha jantar sobre o Oceano Pacífico e passear ao lado de milhões de pássaros, leões marinhos e pinguins. Participe de um passeio pelas dunas do deserto peruano ao anoitecer, e venha jantar sob o luar das estrelas, com uma banda de músicos só para nós em tendas armadas no meio do deserto. Vamos sobrevoar as misteriosas figuras no solo de Nazca com um avião fretado e, no dia seguinte um helicóptero vai descendo no hotel para levar você em um segundo sobrevôo. E isso é apenas o começo.


Jornada Sagrada Inca

Carnaval em Machu Picchu ( http://www.JornadaInca.com.br)

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Viajando para fora. Olhado para dentro.
Mudando por inteiro em uma jornada inesquecível


Jornadas Mágicas http://www.JornadasMagicas.com.br

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